segunda-feira, dezembro 10, 2007

Porque tu não escreves e porque se calhar te estas a precisar de rir um pouco

Querido João,
eu sei que seria a tua vez de escrever, mas não o tens feito e eu queria mostrar-te finalmente o anúncio que fiz!

Espero que te possas rir um pouco.

Muitos beijinhos,
Joana

sexta-feira, novembro 09, 2007

Movimentos Juvenis ou O Desinteresse Político da Juventude Portuguesa

Querido João,


este não vai ser um post muito grande.
Estou com pressa.


Não quis, contudo, deixar de relembrar a difícil situação venezuelana do momento. E não, não me estou a referir aos problemas económicos e às múltiplas infracções contra a Carta do Direitos Humanos. Refiro-me, isso sim, aos protestos estudantis contra a alteração constitucional propostas pelo Presidente Chavéz.


No passado dia 7 Caracas viu-se encher de estudantes universitários, prontos a defender o estado democrático em que até agora vivem. Demonstrações que deviam ser pacíficas e protestos intelectuais deram, contudo, lugar a motins e confrontos, não apenas entre manifestantes e agentes policiais, mas - mais curiosamente - entre estudantes contra e pró-Chavéz. Os manifestantes alegam nunca ter tido em mente uma demonstração violenta e que têm por armas apenas as ideias (Wikinews, 2007). Por outro lado, poucas não foram as imagens transmitidas pelos media em que jovens (presumivelmente apoiantes de Hugo Chavéz) apontam armas aos peitos de colegas, como se aqui estivesse em questão a sobrevivência de cada um.


A alteração da Constituição Venezuelana incorpora direitos presidenciais como o controlo absoluto do Banco da Venezuela e a criação de novas províncias dirigidas por membros colocados directamente pelo Presidente.


O que aqui está em questão é o estatuto antidemocrático que estas alterações trazem. E se por um lado me sinto contente ao ver jovens venezuelanos atentos ao possível abuso de poder pela parte de Chavéz, também me custa saber que tantos outros estão de acordo com tais medidas. O facto de Chavéz estar no poder há mais de 8 anos devia ser suficiente para despoletar manifestações...


Pergunto-me o que motivará a ‘juventude ocidental’ hoje em dia a aderir tão ferozmente à esfera politica. Não me interpretes mal, eu também tento estar atenta aquilo que me rodeia e às decisões que são tomadas pelos dirigentes tanto do meu país como os do resto do Mundo, mas estarão os venezuelanos embrenhados neste tópico porque as medidas sugeridas são de dimensões extraordinárias ou porque, no fundo, não são aquilo a que chamamos ‘uma sociedade ocidental’ e tudo o que isso acarreta (uma economia de base capitalista, um país de sistema democrático, um país de morais e demagogias europeias)?


Porque será que em Portugal já não se vêem demonstrações estudantis, manifestações intelectuais, movimentos de protesto contra medidas governamentais não-escrutinadas? Porque será que nos contentamos com um voto por cada x período de tempo e não nos abalamos com o que passa no entretanto?


Questões iguais a tantas outras que já tenho posto neste Blog.


Espero que mas possas responder (ou, quem sabe, discordar), tu que tens um ponto de vista mais novo e que ainda vives aí, no país que não se rebela mais.

Saudações cordiais e amigáveis,

Joana

quinta-feira, novembro 01, 2007

Querida Joaninha

Começo então como me pedes, vou começar por me apresentar aos leitores de este blog. O meu nome é João e para quem não sabe sou o novo colaborador do Verde Lima. Escrevo também um blog em decadência chamado "Sentido da Coisa"

Acertaste-me no meu ponto fraco, porque sinceramente deixaste-me sem argumentos contra a prostituição e o tráfico sexual. Visto que não vou conseguir criar uma opinião própria, visto que o tema também envolve feminismo e eu não consigo descrever emoções que tenham a ver com o sexo oposto. Também, com a maior das inseguranças, começo já por afirmar que me sinto algo imaturo por estar a avaliar e a contra-argumentar as opiniões de uma pessoa que já esta na universidade, com muita opinião própria, com uma escrita muito melhor que a minha e cinco anos mais velha, sendo eu um reles estudante escolar que lê um livro uma vez em cinco meses.

Em primeiro lugar concordo contigo quando dizes que a cultura pop, a televisão e a literatura-light esta a ‘aligeirar’ a questão da prostituição. Mas aí já entramos noutro tema, a influência dos média sobre a nossa “cultura”. Isso não acontece só em Inglaterra (agora vem a primeira comparação Portugal - Inglaterra no blog), acontece em todo o mundo e essa é na minha opinião um dos maiores problemas da globalização. Há televisões com um conteúdo baixo e generalista em todo o mundo e aposto que todos os canais têm programas como ‘The Secret Diary of a Call Girl’. Novamente concordo contigo porque este programa realmente só existe para aligeirar a prostituição. Ninguém fica com programas ou séries como essas alerta dos problemas do tráfico sexual. Nos é que temos de ter a noção de que mulheres são exploradas, maltratadas e abusadas e não são de certeza tratadas como ‘Prostitutas de classe’. Dando agora um exemplo, já viste os anúncios da MTV (que curiosamente é o canal mais ‘easy-watching’ que já vi com programas como o “Dismissed” ou o “Next”) contra o tráfico sexual. Num temos uma mulher a fazer uma dança no poste e uns homens a babarem-se. Depois obtemos um perspectiva diferente onde vemos a mulher preza ao poste na horizontal numa vitrina a rodar como carne e os homens de gatas como cães a babarem-se. É um anúncio que mostra mesmo a perspectiva da mulher sentindo-se como um objecto. Agora entraria muito no feminismo, mas não posso porque sendo homem posso ser muito mal julgado…

Espero que te esteja a correr todo bem em Londres,
Beijinhos

quarta-feira, outubro 10, 2007

Sobre Prostituição e Feminismo

Querido João,

Primeiro, e antes que me esqueça, queria pedir-te que começasses a tua próxima carta com uma pequena apresentação pessoal, para que os leitores do Verdelima, que não te conhecem já de outros blogs, te conhecessem agora.

Segundo, queria salientar aqui – por muito óbvio que seja – o novo formato do Verdelima. Como prometido, o Verdelima mudou um pouco o lay-out e introduziu um novo método de ‘postagem’, mas garante continuidade na excelência de conteúdos.
A partir de aqui este blog que estás agora a ler (tu e os nossos leitores em geral) será escrito em parceria (como deves saber, visto seres tu o meu colaborador) e irá tentar criar um elo entre os temas que fervem em Portugal e aqueles que fervem no resto do Mundo. Tu que estás em Lisboa e tens, por isso, uma melhor perspectiva sobre a diáspora portuguesa – eu que me encontro em Londres, de onde tenho maior acesso aos assuntos do Mundo. Contudo, para assegurar os nossos leitores, que poderão estar agora aterrorizados com a ideia do Verdelima se tornar mais um blog jornalístico/colunista enfastiante, relembro que tanto eu como tu sabemos, que por entre os temas mais sérios sobressairão as nossas próprias opiniões, histórias mais pessoais (eventualmente relativas à Escola Alemã, à minha Universidade ou a outros pontos dispersos das nossas vidinhas quotidianas) e simples questões que possam estar a fervilhar no momento nas nossas criativamente férteis cabecinhas.
Dito isto passo agora ao tema que me veio à ideia hoje.

Não sei se sabes, mas passa agora na televisão privada britânica (conhecida pela sua muito baixa qualidade e conteúdo comercial e generalista) uma série baseada na polémica biografia de Belle de Jour uma ‘sofisticada’ prostituta em Londres.
Tanto a versão televisiva como o romance original exibem o mundo da prostituição enquanto um planeta acolchoado, repleto de clientes jovens, atraentes e bem abastecidos de dinheiro e bom gosto.
A verdade contudo é bem diferente. ‘Prostitutas de Classe’ à parte – se é que a categoria de facto existe – a prostituição é feita maioritariamente de jovens traficadas da Europa de Leste, de toxicodependentes e de mulheres que se encontraram um dia encurraladas entre a morte e uma qualquer outra sorte não muito melhor.
Uma exposição recentemente montada no centro de Trafalgar Square, Londres, chamava a atenção para o submundo do tráfico humano para prostituição. ‘The Journey’, organizado pela ‘Helen Bamber Foundation’ conta a história de muitas mulheres na Europa de Leste, que se deixam levar pelo sonho de uma vida melhor e acabam em pequenos apartamentos imundos, sem permissão para sair sobre qualquer pretexto e com a obrigação de servir até quarenta (sim, 40!) clientes por dia. No prestigiado jornal ‘The Guardian’ a colunista Madeleine Bunting refere um estudo efectuado pela London Metropolitan University, que pela primeira vez põe na berlinda o cliente em vez da prostituta. Os resultados são no mínimo interessantes: apenas 7% dos questionados afirma que renunciaria o serviço se suspeitasse de coacção sobre a prostituta. Maiores factores para desistência de serviços são a suspeita de a prostituta ser portadora de DST’s ou desta ser fisicamente inatraente.
A questão subjacente aqui é se a televisão, a pop-culture e a literatura light não estarão a romancear, e consequentemente a ‘aligeirar’ a questão da prostituição. A ‘profissão mais antiga do Mundo’ não é feita de negligées, de jogos de atracção e aventuras sexuais aliciantes. É a abnegação do corpo em vantagem de uma vida isenta de alma, vazia até de espírito, apodrecido pelos anos de mutilações psicológicas. Num país que se declara moderno e pró-emancipação feminina como pode ser aceitável – iria até mesmo ao ponto de dizer aliciante – o retratar da mulher de um modo comercial. A mulher enquanto produto. Ao mesmo tempo que nós mulheres nos consideramos cada vez mais independentes, informadas, donas dos nossos próprios destinos, opiniões e contas bancárias, a nossa adquirida liberdade sexual parece ser erroneamente tomada por simples promiscuidade. O problema não é de agora (os nossos pais lembrar-se-ão das polémicas geradas em volta da então jovem cantora Madonna durante os escaldantes anos 80) mas ‘The Secret Diary of a Call Girl’ – ao contrário de outras séries como o ‘Sexo e a Cidade’ e ‘Donas de Casa Desesperadas’ – não aproxima as camadas sociais mais conservadoras da autonomia sexual feminina do século XX. Pelo contrário: mistifica ainda mais o papel da mulher, destorcendo-o e reflectindo a meu ver (e no de Madeleine Bunting) uma ideia machista da mulher enquanto objecto sexual.
Liberdade não é uma mulher dizer abertamente que obtêm controlo sobre homens por via de sexo. Feminismo não é, como a autora de ‘Belle de Jour’ descreve (e vou parafrasear), “ganhar poder em troca de trabalho sexual (…) fazer homens impacientarem-se e enfurecer-se a meu belo prazer”… Chavões criados por uma sociedade misógina e hipócrita. Porque feminismo é exactamente o inverso. Feminismo é acordar todos os dias com a oportunidade de se mudar se assim o quisermos. É ter a liberdade de não termos que trocar o nosso orgulho pela oportunidade de sobreviver. E é acima de tudo debater, questionar e viver tudo isto na nossa condição de Mulher.

Pronto, espero não ter exagerado muito no tamanho, mas o tema interessou-me a sério.
Beijinhos directamente de Londres para Portugal,
Joana